16 fevereiro, 2004

As salinas do Tejo

Que a RNET (Reserva Natural do estuário do Tejo) é um dos piores exemplos de gestão de uma área protegida já não é novidade para ninguém, mas compreende-se as dificuldades que a direcção enfrenta: toda a reserva está envolvida pela área metropolitana de Lisboa, ele é lisboa, é o Barreiro, o Seixal, Almada, Alverca, Sacavém, já para não falar de Alcochete e do Montijo que estão actualmente a crescer a um ritmo quase exponencial, fruto da ponte Vasco da Gama. Como se não bastassem os grandes centros urbanos, temos grandes centos industriais, nomeadamente Alhandra e o Barreiro e essa grande mafia a que chamam Porto de Lisboa. Apesar de tudo, e por incrivel que pareça, o estuário conegue ainda ser a mais importante zona húmida portuguesa, sobretudo no que respeita às aves, e está entre os 10 locais mais importantes da europa para as Aves aquáticas.
O que muita gente talvez não saiba é que as velhinhas salinas, que durante décadas e décadas forneceram não só sal para cozinha mas também o sal para a produção de bacalhau salgado (esse produto tão português) são essenciais para a sobrevivência de muita avs aquáticas, que necessitam delas como refugios durante a maré alta, altura em que as suas áreas de alimentação ficam submersas. Pois, até aqui tudo muito bonito, mas falta dizer o que se passa com as salinas do Tejo.
Na zona Sul do estuário, abaixo do montijo, quase todas as salinas estão completamente abandonadas, algumas cobertas pela vegetação de sapal, outras usadas para despejar entulho ou até mesmo aterradas para construir campos de futebol (como aconteceu perto da Baixa-da-Banheira), essas salinas estão praticamente perdidas para as aves; no entanto, estas salinas não estão incluídas na RNET, nem mesmo na ZPE do estuário do Tejo, pelo que uma vez abandonadas o seu destino estava selado. A situação é muito mais grave na zona Norte do estuário.
As salinas de Alverca, o único local do estuário onde nidificam espécies como a Perdiz-do-Mar ou o Pato-de-Bico-Vermelho, estão prestes a ser destruidas para construir uma bacia de retenção de águas, possivelmente o primeiro passo para a construção de uma nova mega ETAR, daquelas que custam uma pipa de massa e depois de prontas nunca chegam a funcionar... à esqueci-me de dizer, curiosamente o projecto não foi sequer alvo de um estudo de Impacto Ambiental!
Na margem esquerda do Tejo, bem dentro da RNET, existem três grandes complexos de salinas de grande importância para as aves: Vasa-Sacos, Vale de Frades e Samouco (aquelas salinas debaixo da Ponte Vasco da Gama). As primeiras, e mais importantes, foram alugadas por "tuta-e-meia" a uns espanhóis que as encheram de água para produção de camarinha, agora se as aves as quiserem usar só a nado... Quanto a vale de Frades, o ICN ganhou um projecto Life para recuperar essas salinas, ao fim de quase 2 anos a única coisa que fizeram foi restaurar o edificio de um velho moinho de maré e ao que se diz, o dinheiro já acabou, perdido nos meandros orçamentais do Instituto! Finalmente no amouco vai arrancar brevemente um projecto Life para a sua recuperação, neste momento é o complexo de salinas que alberga um maior número de aves, mas tenho muito curiosidade para saber o que se vai passar!

Tenho dito