16 novembro, 2004

Algarve sustentável?

Há umas semanas surgiram notícias de que poderia haver racionamento de água no Algarve no próximo ano, caso as reservas de água da barragem do Funcho não restabelecessem os níveis de armazenamento até 15 de Março (quem o disse foi o próprio Ministro do Ambiente).

Logo surgiram as reacções, sendo que Macário Correia acusou o Ministro de falso alarmismo e os Verdes acusaram o Governo de permitir um turismo intensivo na região com actividades consumidoras intensivas de água como são as piscinas e os campos de golfe. Como podem ver, cada um assumiu a posição que se sabia à partida que iria tomar quando confrontado com esta situação.

Entretanto toda a gente com quem falei me disse que o cenário de racionamento de água estará distante de se tornar realidade. Eu pessoalmente tenho as minhas dúvidas....pelo menos a médio/longo prazo.

Mais ou menos na mesma altura surgiu outra notícia que afirmava que o Algarve poderá vir a ter crise energética, resultado do consumo exclusivo de energias tradicionais em detrimento do complemento com as renováveis. Desta vez, quem alertou para a situação foi Macário Correia (que também é presidente da Agência Regional de Energia e Ambiente do Algarve – AREAL). Macário realçou o grande potencial regional para as energias eólica e solar, criticando o Governo no que diz respeito à burocracia necessária para a implementação de tais sistemas energéticos.

Ora estas duas notícias preocuparam-me no que diz respeito à sustentabilidade da região algarvia. Acho também que só vêm provar que os “fundamentalistas” do ambiente, como por vezes se chega a chamar aos próprios técnicos de ambiente, têm alguma razão quando denunciam certas situações que ocorrem no Algarve em nome do desenvolvimento turístico-económico.

Podia filosofar muito mais sobre este assunto tendo este problema e estas duas notícias como base mas convido-vos a fazerem-no através dos vossos comentários. Nunca é demais (re)lembrar que o desenvolvimento turístico-económico só é possível se estiver inserido num contexto ambiental sustentável. Ninguém quer vir passar férias para a praia da Cruz Quebrada e tenho pena que ainda haja senhores que digam, como eu ouvi há dias, que “eu gostava era de ver gruas por todo o lado, era sinal de mercedes e iates”. Obviamente tratava-se de um senhor ligado à construção civil, visivelmente preocupado (e aqui já sou a eu a pressupor) como todos nós com a sua situação financeira. Isto após um típico almoço bem regado com os melhores vinhos e digestivos como já nos habituaram (sim, estou a generalizar o estereótipo).

Enfim, como já dizia um grande sábio do cinema português: “Começo a ficar farto deste país....” (In Portugal S.A.)

Fonte das notícias: jornal Barlavento de 7 e 14 de Outubro de 2004