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A autonomia e a possibilidade que uma criança tem de explorar o mundo que a rodeia são elementos fundamentais para o seu desenvolvimento físico e psíquico. Com o compreensível desejo de as proteger, estamos a criar uma geração inteira que se movimenta de garagem em garagem – a já chamada “back-seat generation”. Do seu banco traseiro e ávida de “aprender o mundo” a criança conhece melhor as marcas dos automóveis que os nomes das árvores. Saltar muros, roubar fruta, tocar às campainhas e fugir são todas as actividades que se perderam nas últimas décadas. No entanto, se perguntarmos a uma classe de crianças de que forma gostariam mais de vir para a escola a resposta é sempre de bicicleta ou a pé. Nos últimos anos as crianças estão em risco de crescer isoladas do mundo e dos amigos. A protecção dos pais é compreensível: Portugal tem recordes verdadeiramente trágicos de mortes na estrada para qualquer grupo etário, mas são principalmente os mais jovens que são vítimas dos condutores.
A tragédia é tanto maior porque as estatísticas demonstram que quanto mais protegermos as crianças na sua exposição à cidade e ao tráfego, sem a gradual experiência e aprendizagem do perigo, mais probabilidades elas têm de morrerem durante a adolescência.»
* Um excerto do trabalho "Os peões, os passeios e as “causas comuns”" de Mário J. Alves - mariojalves(arroba)gmail.com