06 fevereiro, 2005

Entrevista a Gonçalo Ribeiro Telles - "As pessoas já só vibram com o futebol"

Gonçalo Ribeiro TellesA revista National Geographic, na sua edição em português, chamou-lhe "O Arquitecto dos Sonhos". Em 2002 era líder do projecto Plano Verde de Lisboa, que preparava algumas alterações ao Plano Director Municipal da capital, Gonçalo Ribeiro Telles, arquitecto paisagista, monárquico e presidente do Movimento Partido da Terra, em entrevista ao Oninet em 2002, explicava porque é que a falta de auto-estima é a grande inimiga do Ambiente.

No discurso de Telles, que embora acrescente sempre algo de novo, com projecção nacional e de interesse público, existe um conjunto de ideias que se repetem constantemente ao longo dos colóquios e seminários em que participa, como foi o caso do recente workshop "Estruturação Ecológica dos Centros Urbanos" integrado na 4ª UrbaVerde realizada entre os dias 1 e 3 de Fevereiro, a que tive o previlégio de assistir. O discuso repete-se porque é urgente que se faça ouvir.

Os argumentos do arquitecto paisagista são fortes, vivos de ideias, difíceis de contrapôr por serem tão claros e evidentes. São os argumentos de alguém que não se conforma com o estado a que as coisas chegaram e exige mudança. Ele realça o óbvio, que teimamos a não querer constatar. Talvez seja porque é mais fácil ignorar os problemas que tentar resolvê-los... Uma coisa é certa: muito temos a aprender com as suas palavras.

Deixo-vos com um excerto da entrevista que deu em 2002, que podia perfeitamente ter ocorrido hoje, uma vez que os problemas abordados são igualmente pertinentes e as respostas a estes problemas são as que ainda hoje são discutidas (mas não concretizadas...).

(...)

Vendo Lisboa, caso a caso, que zonas requerem intervenções de fundo?

GRT - A primeira coisa que se tem que fazer em Lisboa, e rapidamente, para parar esta degradação toda é cumprir a lei. É estudar com competência, e elaborar com competência, e implantar em todos os municípios, uma estrutura ecológica municipal, como diz a lei. É um primeiro passo. Em segundo lugar, é preciso limitar também as necessidades. Não pode haver necessidades, se não houver capacidade. A relação necessidade/capacidade é fundamental. Não se podem criar necessidades se não tivermos capacidade para resolver os assuntos. No entanto, é o que estamos a fazer.

(...)

Considera existir alguma relação entre o exercício da cidadania e a luta pelo Ambiente?

GRT - Não. Pergunto primeiro - o que é a cidadania? É vazia de emoção. O cidadão - ainda à moda da influência francesa - é um fulano com direitos e deveres. Escritos. Acontece o mesmo na relação com o Ambiente. Desapareceu de cena um factor extraordinário, assunto muito bem trabalhado pelo médico António Damásio, que é o problema da emoção. E esta questão, de tudo se resumir a direitos e deveres, retirou por completo o sentido emocional da solidariedade e da pátria. Só resiste num sítio...

Onde?

GRT - No futebol. As pessoas já só vibram, nacionalmente, com o futebol. É o que lhes resta...

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Leia a entrevista completa aqui, vale a pena!