Num ano que finda é habitual fazerem-se balanços. Num ano de 2003 onde dificilmente se escolhe um acontecimento verdadeiramente positivo, é altura de pensar no ano que se aproxima. Não querendo ser pessimista (apenas despertar algumas mentes mais conformadas), deixo-vos um excerto de um artigo escrito por Fernando Ilharco, publicado no jornal "Público" de 29 de Dezembro, para que reflictam no caminho que poderemos estar a tomar, e no papel de cada um de nós para resistir a certas tendências que só a nós, em última instância, prejudicarão.
Peço desculpa porque provavelmente o artigo não tem a ver especificamente com a temática do blog...ou talvez até seja assustadoramente pertinente... Aqui fica:
"O mundo é um imenso lugar; um imenso, prodigioso e estranho lugar (...). Nessa estranheza, berço da surpresa e do futuro, a ciência e a tecnologia constituem uma das mais fortes e poderosas alianças nos anéis do amanhã. Desde a cura de muitas das doenças da contemporaneidade e do aumento da esperança de vida, até à manipulação dos fenómenos da vida na Terra e à criação de novas e variadas formas de percepção e de conhecimento, a ciência tecnologicizada tenderá crescentemente a colocar-nos desafios que poucos, se é que alguém, poderemos inteiramente compreender. Muitos dos investigadores, no âmbito de uma tradição reducionista que se tem vindo a desligar da ética, tendem a assumir a autonomia da ciência e da tecnologia e a tomar os seus caminhos como naturalmente bons, positivos e benéficos para a humanidade. Ora, escusado será dizer que nada foi provado ser assim tão linear: uma boa parte dos problemas do mundo de hoje tem origem precisamente nas soluções científicas e tecnológicas do mundo de ontem. As populações, presas aos ecrãs das televisões, dos computadores e dos telemóveis, perseguindo os concursos, as novelas e as últimas novidades da moda, obviamente não estão minimamente preparadas nem interessadas em debater e ponderar as implicações da revolução da informação, da genética ou da biotecnologia. O mesmo pode aliás dizer-se de uma boa parte da classe política, herdeira de décadas de jogos de cintura, de alianças e de traições nos corredoress dos poderes do Estado, e de pouco mais. Assim, sobrarão poucos. (...)
Peço desculpa pela imensidão de espaço que ocupei e aproveito para desejar as melhores entradas em 2004 para todos.