Cerca de 32% da zona costeira portuguesa está sujeita a uma situação de erosão considerada «preocupante», sobretudo na costa ocidental. «A erosão costeira manifesta-se por um recuo da linha de costa tem afectado extensões consideráveis do litoral continental de Portugal sendo frequentemente observadas taxas de recuo de 1 metro por ano (m/ano). O litoral arenoso da costa oeste é particularmente sensível, com recuos que atingem 20 m/ano, por exemplo, entre a Foz do Neiva e Esposende», declara Filipe Duarte Santos, coordenador do projecto Scenarios, Impacts and Adaptation Measures (SIAM).
O processo de erosão também se faz sentir no litoral rochoso, em sectores de formações geológicas brandas, na costa do Algarve, na Península de Setúbal e em alguns locais da costa alentejana. No período de 1938 a 1995, a linha de topo das arribas no troço da orla costeira entre Olhos de Água e Quarteira recuou a uma taxa de 0,17 m/ano.
Mas o cenário pode ficar mais negro. Estudos recentes no âmbito do projecto SIAM indicam que cerca de 67% da orla costeira continental está em risco de perda de território, principalmente quando o substrato rochoso é brando ou móvel e baixo. A subida do nível médio do mar, projectada pelos cenários climáticos globais até 2100, situa-se entre 0,09 e 0,88, sendo o valor mais provável da ordem dos 0,5 m.
Os resultados do SIAM apontam que as regiões onde o risco é muito elevado são Espinho-Cabo Mondego, na costa ocidental, e Ancão-Foz do Guadiana, na costa algarvia. FilipeDuarte Santos deixa mesmo um alerta: «Alguns troços, como por exemplo, a sul da Foz do Douro até à praia da Cortegraça deveria ser objecto de uma intervenção rápida baseada em estudos da dinâmica do litoral incluindo os impactes das alterações climáticas».
São várias as causas apontadas para o processo erosivo das zonas costeiras, mas na sua maioria este surge associado ao esgotamento das fontes sedimentares externas e à forte deriva litoral. Para o caso português em muito contribuiu «a construção de um grande número de barragens a partir dos anos 40 e que reduziu drasticamente o transporte de sedimentos pelos rios até ao oceano», afirma o responsável pelo SIAM.
Calcula-se que actualmente o Tejo transporta menos de 1/3 da carga potencial de sedimentos para o seu estuário interior e o rio Douro apenas 1/7 do seu potencial de transporte. A extracção de inertes nas zonas fluviais, estuarinas e costeiras para a indústria da construcção civil tem também contribuído para a intensificação da erosão. Mas as obras de protecção da costa, a que se recorrem precisamente «em situações de emergência e sem estudos prévios de médio prazo sobre a dinâmica costeira», tem um efeito perverso ao «acelerarem os processos de erosão em lugar de os mitigar, contribuindo para desviar o transporte de areias para zonas mais externas da plataforma continental».
Fonte: Jornal Água & Ambiente (versão impressa)
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