A ideia surgiu num lampejo, enquanto Miguel Vieira ouvia uma cassete, no seu carro, numa viagem entre Setúbal e Lisboa. Mas não era música a fonte de inspiração. O então vice-presidente da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) vinha de uma reunião na sede da Reserva Natural do Estuário do Sado, à qual assistira munido de um gravador. Registou integralmente a apresentação que um alto funcionário de Bruxelas fez da nova fonte de financiamento comunitário para projectos de conservação da natureza - o programa LIFE. E no regresso, ao ouvir a cassete, teve a ideia: "Por que não usar esse dinheiro para comprar aquelas propriedades?"
Estava-se a entrar nos anos 90, e a polémica sobre a plantação indiscriminada de eucaliptos ainda ia no auge. As "propriedades" eram um conjunto de herdades no concelho de Castro Verde, que estava nas mãos das empresas de celulose. A possibilidade de se transformarem em eucaliptais era uma dura ameaça para a principal concentração nacional de aves típicas dos campos de cereais - em particular a abetarda.
Do momento em que se cristalizou aquela ideia até hoje, as planícies de Castro Verde transformaram-se no palco de um dos mais bem sucedidos projectos de conservação da natureza do país. Em termos numéricos, o saldo positivo é inegável. Em toda a região de Castro Verde, havia cerca de 400 abetardas no início da década de 1990. Este ano, a contagem chegou a 1022 aves. Também a população de peneireiro-das-torres - outra espécie ameaçada de ave - cresceu consideravelmente.
A protecção destas e de outras aves que vivem na região foi o ponto de partida para algo que acabou por se tornar muito maior - num exemplo bastante próximo do ideal do desenvolvimento sustentável, envolvendo ambientalistas, cientistas, agricultores, empresas, autarcas e a população. Daí que a LPN tenha rebaptizado o seu projecto como Programa Castro Verde Sustentável.
Com recurso a agricultores da região, a LPN faz a gestão dos 1700 hectares das suas propriedades, cultivados segundo normas destinadas a facilitar a vida à avifauna. "Somos eco-latifundiários", brinca a coordenadora do programa, Rita Alcazar.
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