25 janeiro, 2006

Expedição à Antárctida para estudo do permafrost

Gonçalo Vieira, investigador no Centro de Estudos Geográficos e professor do Departamento de Geografia da Universidade de Lisboa participa, de 10 de Janeiro a 18 de Fevereiro de 2006, numa campanha científica nas Ilhas Shetlands do Sul (Península Antárctica), na qual é coordenador científico das actividades da equipa do Projecto PERMAMODEL, constituída por investigadores espanhóis, suíços e alemães.

O projecto espanhol permamodel estuda o impacte de variações de temperatura no solo gelado. O investigador visita as ilhas pela segunda vez coordenando a equipa de manutenção e tratando do equipamento de monitorização de temperatura e de prospeccionar a área para instalar mais material.

Uma das fotos disponíveis no blog de campanha.

Livingstone é uma ilha montanhosa com 90 % da superfície coberta por glaciares; Deception tem um vulcão activo. Há cinco anos, Vieira instalou dois termómetros, um em cada ilha, em profundidade até 2 metros. Agora, a equipa realizará o reconhecimento geomorfológico e geofísico necessário para instalar termómetros a profundidades entre 25 e 30 metros.

O objectivo é, a partir de medidas da variação térmica do subsolo, analisar as variações climáticas observadas. Para isso o tipo de solo escolhido foi o permafrost - substrato (solo ou rocha) cuja temperatura se mantém inferior a zero graus Celsius ao longo de um ano. Forma-se quando o solo arrefece o suficiente para formar uma camada congelada que persiste durante o Verão. A formação de permafrost é principalmente determinada pela temperatura atmosférica; mas a sua distribuição, espessura e temperatura é influenciada pela temperatura do solo à superfície. Esta depende de factores como a quantidade de radiação incidente (orientação norte ou sul), níveis de humidade, nebulosidade e turbulência do ar e espessura de camadas de neve (que têm efeito isolante). Estes parâmetros serão avaliados pela equipa na escolha dos locais para as próximas prospecções.

Os dados recolhidos pelos termómetros a instalar servirão para calibrar modelos climáticos que relacionam a temperatura atmosférica com a do solo. Embora determinada por variações atmosféricas, a temperatura em profundidade varia mais lentamente que à superfície. Por isso, pode ser utilizada para estimar temperaturas atmosféricas no passado.

Mas os modelos servem sobretudo para prever os efeitos de alterações climáticas futuras. Assim, os dados a recolher serão transmitidos a programas internacionais de monitorização global como o PACE (Permafrost e Clima da Europa) e o GTN-P (Rede Terrestre Global para Permafrost). A determinada profundidade, as variações térmicas começam a ser influenciadas pelo gradiente geotérmico da Terra - ou seja, pela propagação de calor proveniente do núcleo. A expedição contribuiurá para compreender o impacte deste gradiente nas variações registadas em permafrost porque permite comparar valores entre duas ilhas que diferem em anomalias geomorfológicas (com e sem vulcão activo).

Permamodel é um projecto prioritário no âmbito da investigação polar. Como consequência directa desta expedição, o número de perfurações na Antárctida (apenas 6 neste momento) aumentará, antecipando o Ano Polar Internacional 2007-08.

Gonçalo Vieira mantém um diário de expedição interessantíssimo que podem consultar aqui!